A andragogia, do
grego (“andros” – adulto e “gogos” – educar) se constitui como a ciência
voltada ao ensino de adultos. Ao se pensar em educação de adultos, precisamos
ter como princípio a ideia de que algumas particularidades precisam ser respeitadas
e, por essa razão, o currículo deve ser pensado em função das necessidades
deste perfil singular de estudante.
Diferentemente dos
usuais métodos de ensino às crianças, os jovens e adultos tendem a aprender
algo quando esse conhecimento se associa a uma necessidade e função conectadas
a sua realidade, de forma que os conteúdos tratados em sala de aula precisam
estar relacionados a temas significativos da vida social e profissional destes
alunos.
É imprescindível, portanto, que as aulas estejam baseadas e pautadas em
experiências concretas e funcionais interligadas à vivência do grupo.
A pergunta “isto
serve para quê?” deve estar sempre em evidência no planejamento do professor e
permear o dia a dia do educando. Torna-se função do educador, assim, provocar
transformações nestes alunos, a partir do conhecimento (saber) que será
transmitido, associado às habilidades (saber fazer) intrínsecas deste
conhecimento e por meio de atitudes (querer fazer) do educador e do próprio
educando.
Esse é o grande
desafio da educação: agregar valor ao que se propõe a ensinar, sem deixar de
cumprir as exigências competitivas do mercado de trabalho.
O modelo
andragógico, nesse viés, possui os seguintes princípios básicos:
1. Saber justificado: adultos precisam saber por que
precisam aprender algo e qual o ganho que obterão nesse processo. Ainda, o
aprendizado é mais bem aproveitado e retido quando os conceitos apresentados
são bem contextualizados, demonstrando sua aplicação prática e sua utilidade.
2.Novo conceito de
aprendiz: adultos são responsáveis por suas decisões e por sua vida, portanto,
querem ser vistos e tratados pelos outros como capazes de se autodirigir.
3.Aprendizado e
realidade: para o adulto, suas experiências são a base de seu aprendizado. As
técnicas que aproveitam essa amplitude de diferenças individuais e sociais,
relacionando, inclusive, o aprendizado em sala de aula com situações reais do
dia a dia do educando, se mostram mais eficazes.
4.Motivação para
aprender: adultos mais motivados a aprender em decorrência de fatores externos,
como melhores oportunidades de trabalho e salários, mas também devido a valores
intrínsecos, como autoestima, reconhecimento pessoal, autoconfiança, entre
outros.
Dessa forma,
acabou-se o tempo em que a educação de adultos visava apenas ensinar o aluno a
ler e a escrever. Atualmente, ela está voltada à formação de agentes
transformadores, críticos e aptos a ingressar ou se sobressair na vida
profissional.
O adulto chega à
escola trazendo um sonho, tal qual o de ser reconhecido pelo o que já sabe, e,
em contrapartida, tem consciência do que ainda não sabe. Essa é uma importante
ambiguidade do trabalho do professor na EJA, cuja atuação deverá se focar no
resgate deste sonho, procurando trazê-lo à realidade, enquanto orienta o
educando na busca por sua excelência educacional.
Vale mencionar a
lição de Paulo Freire, presente no livro Pedagogia da Tolerância, coletânea de
reflexões organizada por Ana Maria Araújo Freira (2004, p. 206), no qual ele
afirma que “não é possível sonhar e realizar o sonho se não se comunga este
sonho com outras pessoas.”
Deve o professor da
EJA, de tal modo, incentivar seus alunos a investir em si mesmos e a buscar
seus sonhos, alcançando por meio desta união o resultado prático de suas
idealizações, formando o aluno como ser humano tanto quanto profissional.
Por estes motivos,
ressalto que enquanto a escola prepara a criança para o futuro, na EJA a escola
prepara o adulto para o presente, oportunizando diminuir a distância entre o
que o adulto espera aprender na escola e o que a escola oferece de aprendizado
para este adulto. Ao mesmo tempo, a EJA procura traduzir para a realidade
social deste indivíduo o que ele espera de seu ambiente educacional e social,
em contraste com o que a sociedade e o mercado de trabalho buscam deste
profissional.
Maria Angela
Diaféria, assessora pedagógica da Editora FTD.
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