domingo, 27 de maio de 2012

Aula interessante


 Sempre intento encontrar diferentes formas de motivar e incentivar aos meus alunos. Semana passada, usei o exemplo do treinador. Comecei perguntando quantos alunos na sala praticam algum esporte, imediatamente mais da metade da turma levantou a mão. - Muito bem! Imaginem que seu treinador, que costuma fazer vocês correrem 1.000 metros para esquentar os músculos, antes de começar o treinamento propriamente dito, um belo dia diz, hoje vão correr somente 500 metros. No dia seguinte manda correr 250 metros. No caso do treinador continuar com essa política, algum de vocês pode me dizer se o desempenho desse atleta vai melhorar ou piorar? Todas as mãos ficaram para cima e todos falando e gritando ao mesmo tempo concordavam que o rendimento do atleta ia piorar. - Lógico, professor, ele só pode piorar. Foi à resposta básica. E todos olhando para mim, com uma expressão nos seus rostos: Será que o professor pirou? - Por quê? Perguntei e fiquei em silêncio. - É obvio professor, se o atleta é pouco exigido nunca poderá atingir seu ápice como esportista, senão veja o Bernardinho, sempre exige mais e mais de seus atletas. Quase podia ouvir os pensamentos dos meus alunos dizendo: - Que professor burro! - Como faz uma pergunta tão estúpida! - Qual é a diferença entre um professor e um treinador? Lancei a pergunta num momento de silêncio. Os menos avisados responderam imediatamente, os mais espertos ficaram calados sentindo que tinham sido levados para uma armadilha. - Nenhuma! Responderam os menos avisados e os coerentes. Os outros ficaram somente olhando. Depois de contar este pequeno episódio desejo manifestar, aos meus leitores, que essa é a causa do estado atual da educação no nosso país. Quando um professor desavisado comete o erro de querer ensinar, motivar e educar aos seus alunos dentro dos padrões de um Bernardinho (um convidado frequente para dar palestras aos educadores nos colégios) é apelidado de demasiado exigente. Nosso sistema educacional cada vez exige menos de nossos atletas intelectuais. À média exigida para passar de ano vai baixando, de sete passou para seis, agora é cinco e, muitas vezes é menos já que os conselhos de classe aprovam alunos com médias ridículas independentemente de seus desempenhos acadêmicos. Isto não acontece somente nos colégios, mas nas universidades também, já que muitos professores não são julgados pela capacidade de ensinar, mas pela sua capacidade de aprovar alunos, porque o que interessa é não perder alunos. É muito comum que os professores sejam chamados pelas coordenações em função das queixas dos pais e/ou alunos. Quais são essas reclamações? Professor muito exigente, muito duro com as notas, falta de flexibilidade e compreensão das diversas atividades extracurriculares dos alunos. Quando nossa educação consiga enaltecer os professores que realmente sentem orgulho de ensinar e que pensam que o estudo é um prêmio e não uma obrigação, quando nossos Bernardinhos da educação sejam enaltecidos e nossa sociedade enalteça ao bom estudante como faz com nossos atletas de ponta, esse dia nosso sistema de educação começará a melhorar. Porque ensinar aos nossos alunos buscar uma nota cinco quando podem ir atrás de um dez? Qual é o motivo para ensinar aos nossos estudantes que a nota medíocre é uma boa nota? Porque não ensinar aos nossos alunos que é muito melhor perseguir uma nota dez que um cinco? Quero que meus netos sejam atendidos por médicos e advogados nota dez. Desejo que as casas nas quais meus familiares vivam sejam construídas por engenheiros nota dez. Da mesma forma que esperamos numa olimpíada que nossos atletas ganhem medalhas de ouro, deveríamos ter a mesma expectativa de nossos futuros profissionais em suas áreas de atuação. No entanto há um preço que nossa sociedade deve pagar. Qual é esse preço? Os pais deste país devem entender que seus filhos não são criados para eles, mas para à sociedade. Nossos filhos não poderão viver sempre sob nossas asas. Devemos preparar eles para o mundo real, não para um mundo no qual sempre estarão protegidos. A mudança dos tempos fica neste pensamento: Antigamente quem tremia eram os pais quando um professor queria falar com eles sobre seu filho. Hoje as coordenações e os professores tremem quando os pais querem falar sobre seu filho. Os tempos mudam, e a educação também. Aqueles de meus leitores que tenham idade suficiente, respondam: Que educação você prefere?


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